Aperçu #15: As New Yorks de Georgia O’Keeffe
tudo é uma questão de ponto de vista...
Georgia O'Keeffe (1887-1986). Esse nome te lembra alguma coisa? Se sim, eu aposto que são pinturas de abstrações e naturezas mortas. Certo? Para mim era isso, até o mês passado, quando descobri a exposição Georgia O’keeffe: My New Yorks, em cartaz até 02/09, no Art Institute of Chicago1.

Nascida no Estado do Wisconsin (EUA), O'Keeffe viveu no no Centro-Oeste e na Costa Leste americana até 1918, quando se mudou para New York com o fotógrafo e galerista Alfred Stieglitz, na época seu namorado e depois marido. Eles levavam uma vida pendular, permanecendo em Manhattan do final do outono até a primavera, e no interior do Estado do verão até o início do outono. Em novembro de 1924 - iniciando mais uma temporada em Manhattan -, o casal se mudou para o Shelton Hotel (localizado na Lexington Avenue, entre as ruas 48 e 49), para uma estadia temporária, enquanto aguardavam a reforma do apartamento onde costumavam ficar. Mas a reforma não ficou pronta a tempo e eles passaram toda a temporada no Shelton.
Na época, o Shelton Hotel era o edifício residencial mais alto de New York, o único que com mais de 11 andares. A vida nas alturas que o Shelton oferecia era uma novidade que permitia uma nova relação com a cidade e, consequentemente, um novo estilo de vida. A experiência foi impactante para Geogia O’Keefe e, o que era para ser só uma hospedagem incidental, acabou se repetindo pelos próximos 12 anos. E, ano após ano, eles se hospedavam em andares cada vez mais altos, passando a maior parte das temporadas no 30º andar.
Entre 1924 e 1928, inspirada pelas novas perspectivas que as alturas do Shelton proporcionavam, O’Keeffe fez um desvio de seus temas tradicionais e criou uma série de pinturas de New York, nas quais retrata a interação entre a natureza e o ambiente construído pelo homem, a geometria dos prédios, as paisagens vistas do alto de seu apartamento e as ilusões de ótica dos arranhas-céu vistos do nível da rua. São pinturas de um caráter muito pessoal, que não buscam retratar New York como era, mas sim com Georgia a via.
Ela própria chamou essa série de pinturas de My New Yorks, mas só agora, quase 100 depois, elas são colocadas como tema central de uma exposição que visa examiná-las seriamente, ao mesmo tempo que as situam no contexto de outras composições de O’Keeffe, com outras temáticas, do mesmo período.
Desde que soube da exposição, estou encantada com essas pinturas e pensativa sobre duas questões que estão nas entrelinhas dessa história toda:
Mudar de posição pode mudar nossa percepção/perspectiva das coisas;
Desvios do caminho podem nos levar a lugares lindos e a coisas incríveis.



Um abraço,
Lu
Todas as imagens foram obtidas do website do Art Institute Chicago e fazem parte da exposição.





Acabei de ler um texto que Joan Didion escreveu sobre a artista no livro O Álbum Branco. Fiquei vendo as obras dela pelo google e agora quando abro o e-mail tem esse texto seu. Amei a coincidência!!
Um beijo.
Perfeitas as suas duas colocações finais. Que bom que a artista pode compartilhar com a gente o seu novo ponto de vista