Aperçu #04: Uma visita ao ateliê de Domingos Tótora
21 lições para o século 21, Minha obra prima e o que mais vi de bom desde a última edição
Olá!
Alguma vez você teve que ir longe para ver algo que estava mais próximo? Eu já! Foi acompanhando o trabalho da Loewe Foundation - Fundação voltada à promoção da arte, vinculada à marca espanhola de moda de luxo Loewe - que descobri o trabalho do artista mineiro Domingos Tótora. Em 2022, ele foi um dos selecionados do Loewe Craft Prize, com a escultura Âmago. Desde então, sentia vontade de conhecê-lo e de ver o trabalho pessoalmente.
Esse mês, finalmente, peguei um voo de Brasília para Congonhas (São Paulo), um carro de São Paulo para Campos do Jordão, passei o resto do dia e a noite na cidade e, no dia seguinte, peguei o carro novamente até Maria da Fé, cidade mineira na região da Serra da Mantiqueira, onde fica o ateliê de Domingos. Esse é o melhor caminho até lá partindo de Brasília (e acredito ser o melhor para quem sai de qualquer outra UF).
Já era cerca de 11:00 de um sábado ensolarado e muito quente, quando cheguei em frente ao grande portão marrom no final de uma rua sem saída na qual não se via ninguém, nem se escutava qualquer barulho, a não ser o do latido do cachorro enorme na casa vizinha. O próprio Domingos abriu o portão. Percorremos todo o ateliê conversando sobre como surgiu a ideia de reaproveitar o papelão como matéria-prima, como a participação no Loewe Craft Prize aumentou a projeção do seu trabalho internacionalmente - entre outras encomendas internacionais, ele acabou de produzir 40 bancos para lojas da Loewe e um painel enorme para o super luxuoso hotel Aman em NYC - e sobre como é o processo de produção das peças e o impacto socioambiental para a cidade.
Atualmente, Domingos emprega 12 pessoas de forma direta no ateliê e usa as caixas de papelão que chegam com produtos nos comércios da cidade (e iriam para o lixo) como matéria prima. A coloração das peças é feita a partir do corante natural do minério de ferro presente na região. O resultado são bancos, mesas de centro, vasos e esculturas nas quais a textura divide o protagonismo com a excelência do trabalho manual e com o impacto socioambiental positivo.
Terminamos a visita sentados no jardim, conversando sobre outros assuntos. Do banco onde sentamos, era possível ter uma vista ampla do jardim e do ateliê ao fundo. Essa imagem me lembrou a conhecida frase do historiador da arte Johann Joachim Winckelmann: “nobre simplicidade e serena grandeza”. Abaixo, deixo mais algumas imagens que fiz do ateliê.
Há mais de 2 anos, meu marido ganhou de presente o livro 21 lições para o século 21. Ele leu, gostou, e disse que eu também gostaria de ler. Esse mês, finalmente, iniciei a leitura e terminei por esses dias.
O livro levanta as questões mais graves e urgentes do momento - especialmente mudança climática, guerra nuclear e avanço da inteligência artificial - e faz uma série de conjeturas e reflexões a respeito de vários cenários que batem a nossa porta. Por exemplo, a inteligência artificial vai mesmo “roubar o trabalho” de todo mundo? Provavelmente não! É possível que ainda existam atividades econômicas a serem realizadas por seres humanos, mas elas exigirão um nível de especialização e atualização MUITO intensos. O que fazer então com o contingente de pessoas que não conseguirão acompanhar essas mudanças e se tornarão “sem utilidade” no mercado de trabalho? E como isso pode impactar a sociedade em vários níveis, desde a saúde mental até a segurança publica? Nesse momento, estamos assistindo à corrida eleitoral nos EUA e um dos temas mais recorrentes no discursos de um dos candidatos é o combate à imigração com a justificativa que “os imigrantes vão roubar seu emprego”. Esse livro mostra que esse é um pensamento bem atrasado: o imigrante não vai roubar seu emprego, a IA é que vai!!!!
Outro ponto: se todos esses problemas são globais, um retorno ao nacionalismo seria a solução? Ao que tudo indica, não. Exemplo: um país pode se fechar em copas e reduzir a zero sua emissão de gases de efeito estufa, mas se os demais não fizerem o mesmo, ele sofrerá os efeitos do aquecimento (que é global) de todo jeito! Ou seja, problemas globais exigem soluções globais!
Eu gostei muitíssimo e recomendo caso você tenha interesse em se aprofundar e refletir sobre as principais questões do aqui e agora!
Nessa última terça-feira, eu entrei na Netflix para procurar um filme e acabei encontrando e assistindo ao filme argentino Minha obra prima. É uma comédia que conta a história de uma artista esquecido e seu galerista decadente fazendo de tudo para voltarem a ter fama e grana. É um filme leve, daqueles para relaxar. As falas do início - primeiro sobre arte e depois sobre a cidade de Buenos Aires - são muito bonitas! Eu gostei 😊
Por fim:
A Universidade de Harvard está oferecendo mais de 160 curso on-line e gratuitos em diversas áreas.
A Forbes Brasil publicou 6 tendências de viagem para 2024 (Alerta: conheço Madri e Lima e, pessoalmente, não acho que sejam substitutas, pois são MUITO diferentes, apesar da história que as une).
Eu amo a revista Kinfolk e esse mês ela lançou mais uma edição especial, dessa vez sobre design. Disponível também na Amazon.
Em 19/03 é o dia do artesão e a Vida Simples publicou esse artigo com 6 artesãos brasileiros que fazem um trabalho de encher os olhos.
Janaína Torres, chef do restaurante A Casa do Porco, foi eleita a melhor chef mulher do mundo pelo The World’s 50 Best.
Na semana passada Banksy divulgou uma nova obra. O novo mural fica em Londres e deu o que falar: recebeu críticas, foi pichado e levantou suspeita sobre a identidade do artista.
Um abraço,
Luzia
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Que texto maravilhoso! Me trouxe memórias muito preciosas... Sou de Itajubá, que fica do lado de Maria da Fé (a cidade de origem do Domingos Totora). A minha avó Leninha era uma grande fã dos trabalhos dele e lembro das nossas viagens até o ateliê dele que ficava lá. Ela foi a minha grande incentivados das artes. A próxima vez que for pra minha cidade vou fazer uma visita em Maria da Fé... Tão bom ver nossos artistas originais voarem longe né 🫀
tenho amado ler você! tudo o que você compartilha é inspirador, 🤎.